Para
os mais desatentos, recentemente um jogador de poker norte-americano, de
nome Joe Ingram, veio a público denunciar situações de
batota (collusion) de forma generalizada na rede de poker wpn. Este jogador começou por
fazer um vídeo, em que faz um monólogo bastante extenso e
entediante, em que não apresenta qualquer prova visual concreta da
collusion e refere que fez o vídeo sem ter obtido resposta, da sala
em questão, até à data do vídeo.
Posteriormente,
este jogador, fez um outro vídeo, onde aí sim, demonstra que alguns
jogadores estão a aproveitar uma falha na rede wpn (ou como ele
refere “loophole”) que faz com que os jogadores, que fazem late
registration, entrem todos para a mesma mesa. Muitos jogadores,
aproveitando este facto, ficam a “canar” e conseguem percentagens
de itm surreais, alguns chegam perto dos 90%. Para terem uma ideia do
quão alto é este valor, um bom jogador de mtts, chega a itm cerca
de 20% das vezes.
No
seguimento destes vídeos, o mesmo jogador norte-americano, faz acusações
vagas a 2 jogadores portugueses, num dos casos referindo o nick de um
deles, no outro caso, colocando uma imagem de um outro jogador
português, a “alegadamente” jogar poker em 3 pcs.
Não
me cabe a mim, fazer qualquer juízo de valor, em relação aos
jogadores portugueses acusados, para já o que foi apresentado, foi
uma mão cheia de nada, além disso, não tenho qualquer meio para
verificar a culpabilidade dos mesmos. Eu valorizo a presunção de
inocência, seja no poker ou noutra actividade, para mim todos são
inocentes até prova em contrário. A sala que faça o seu trabalho e
investigue a situação.
Jogo
poker há cerca de 10 anos, já reportei situações suspeitas de
collusion mais de uma dezena de vezes, algumas delas já neste
mercado regulado, umas vezes foi-me dada razão, outras não, o que
acaba por ser normal acontecer. Uma coisa foi comum a todas as
situações, nunca divulguei a situação na praça pública, antes
de o fazer em sede própria e obter uma resposta da sala.
Para
mim, quando vejo alguma situação suspeita nas mesas, a minha
atitude é reportar a situação à sala, insistindo se necessário,
mantendo a questão em segredo, até porque lá porque vi algo
suspeito, não quer dizer que quem tenha tido essa atitude seja
necessariamente culpado, cabe à sala reunir toda a informação e
analisar devidamente a situação. Depois da resposta da sala, caso
ainda tenha dúvidas em relação ao veredicto dado pela mesma, posso
sempre apresentar novos argumentos ou insistir na minha queixa, e
estando em mercado regulado, posso ainda expor a situação ao
regulador.
Assim
sendo, não entendo esta atitude de se vir para a praça pública
fazer alegações vagas, enquanto ainda não se obteve resposta da
sala, este tipo de atitude, para mim, revela mais sede de
protagonismo do que sede de justiça. Sejamos claros, o tal
“loophole” é uma situação grave que a sala deve corrigir, e
até deve, eventualmente, banir jogadores que o aproveitaram. Mas
tudo o resto é vago, pouco claro, e até ofensivo para as pessoas
referidas, sem que na maior parte dos casos as acusações sejam
minimamente justificadas.
Na
minha opinião, o correcto aqui seria insistir com a sala até obter
uma resposta, só depois de várias insistências e se perceber que a
sala está clara e objectivamente a pactuar com situações de
collusion, se deve vir para as redes sociais reportar a situação.
Compreendo
que seja frustrante, reportar suspeitas de collusion à sala de poker
e esta demorar uma eternidade a dar uma resposta, mas vir para a
praça pública lançar suspeitas vagas, por certo não resolve esse
problema.
Há
uma coisa que todos devemos ter em conta nestes casos, estarmos a
referir que existe batota no poker online, mesmo que o refiramos
justificadamente, que para mim nem foi o caso aqui, estamos a passar
uma má imagem do jogo. Eu perdi a conta aos comentários que li nas
redes sociais a esta notícia que referiam “por isto é que eu não
jogo poker online” ou “vou deixar de jogar poker online”.
Acho
que não podemos tomar a árvore pela floresta, estas situações,
até prova em contrário, correspondem a uma parte microscópica do
universo do poker. Sempre houve batota no poker e provavelmente
sempre haverá, cabe a quem joga, reportar estas situações às
salas e a estas darem resposta, não só de forma reactiva mas também
de forma proactiva. Caso as salas não cumpram esse papel, cabe ao
regulador (onde ele existe) exigir que estas o façam, se o regulador
não cumpre esse papel, cabe aos jogadores, de forma organizada, com
uma representação forte, exigi-lo.
Além
disso, considero também importante que os jogadores valorizem a
imagem do poker sempre que possível. Isso passa por discutir as
questões de forma organizada, em sede própria, sem especulações,
evitando seguir maus exemplos de outros negócios, onde os agentes
envolvidos têm, sistematicamente, atitudes que só prejudicam a
imagem do seu próprio negócio. O poker já é suficientemente mal
visto pela sociedade, não é necessário que os agentes envolvidos
lancem mais “achas para a fogueira”.